SERVIÇO ESPECIAL DE SAÚDE DE ARARAQUARA (SESA)
Araraquara - SP
Autor: Oscar Valdetaro
O Edifício Visto do alto. Fachadas Principais - Sul e Leste (2019). Fonte: acervo dos autores.
Vistas da fachada Sul. Modenatura, fechamentos recuados, no alinhamento, terraço do terceiro Pavimento e Pilares (2019). Fonte: acervo dos autores.
Pavimento Térreo. Entrada principal - Pilotis que foi fechado. Escada externa de acesso ao auditório e alojamentos. Pilares de secção circular. Rompimento da ortogonalidade das linhas do edifício (2019). Fonte: acervo dos autores.
O Edifício Visto do alto. Fachadas Principais - Sul e Leste (2019). Fonte: acervo dos autores.
Imagens da obra
Plantas, corte e fachadas. Redesenho dos autores.
Plantas, corte e fachadas. Redesenho dos autores.
Plantas, corte e fachadas. Redesenho dos autores.
Imagens do projeto
FICHA TÉCNICA
Data do projeto/construção/inauguração: 1947 /1951.
Localização/perímetro: Rua Itália, Nº 1677 - Centro, Araraquara-SP.
Intervenções posteriores: Fechamento do Pilotis, construção de sala ocupando o terraço do auditório, colocação de elevador em espaço originalmente destinado às salas, de escada externa junto a fachada norte e gradeamento nas duas frentes do edifício. Pintura sobre revestimento de pastilhas e outros.
Tamanho do lote e área construída: 1.775,00 m² / 2.145,00 m².
Tombamento: não houve.
Construção: Construtora e Comercial Torello Dinucci Ltda.
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
FICHER, S.; ACAYABA, M. M. Arquitetura Moderna Brasileira. São Paulo: Projeto Editores Associados, 1982.
TOLEDO, L. C. M. Feitos Para Cuidar: a arquitetura como um gesto médico e a humanização do edifício hospitalar. 2008. Tese (doutorado) – Programa de Pós-graduação em Arquitetura, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2008.
XAVIER, A.; MOZOGUCHI, I. Arquitetura Moderna em Porto Alegre. São Paulo: Pini, 1987.
ZAMPIERI, R. V. Campus da Universidade Federal Santa Maria: um testemunho, um fragmento. 2011. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2011.
SOBRE A OBRA
“O edifício do Serviço Especial de Saúde de Araraquara, pertencente à Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, é um bom exemplo da arquitetura dos anos 50. É uma obra representativa na história da arquitetura de Araraquara, que merece ser conservada.” (Nestor Goulart Reis Filho, São Paulo, 03 de outubro de 2000). Um Marco na Paisagem da Cidade.
Exemplar da Arquitetura chamada Moderna dos anos 50, elaborada no Ministério da Educação e Saúde, trouxe para a cidade, não só padrões mais atualizados de atendimento e pesquisa na área de Saúde Pública, bem como o enriquecimento da sua paisagem urbana. Projetado pelo arquiteto Oscar Valdetaro, integra conjunto de edifícios institucionais de várias épocas localizados na Praça Pedro de Toledo: Largo da Câmara; área de preservação municipal. O “Posto de Saúde” introduz na área central da cidade a nova arquitetura, praticada nos grandes centros do país, filiada ao pensamento moderno, então consolidado; presença carioca em Araraquara. Edifício referência nas transformações do atendimento das questões da saúde a que se propunha o Ministério, o Posto de Saúde integra o Patrimônio da Universidade de São Paulo, participando por suas próprias qualidades, do mais amplo acervo arquitetônico brasileiro.
O terreno plano, de esquina se desdobra em dois retângulos. No maior, à frente, está implantado longitudinalmente, a partir do alinhamento predial da Avenida Portugal, face Sul, o edifício principal que também se abre para a Praça Pedro de Toledo, Rua Itália, face Leste. O menor, ao fundo, abriga garagem e depósito. O programa de necessidades previa uso misto com espaços e acessos específicos para atendimento ao público, pesquisa, alojamentos de estudantes, auditório e áreas técnicas, sendo resolvido basicamente em bloco único de três pavimentos de plantas retangulares moduladas com circulação central no eixo leste–oeste e conjunto de escadas localizadas nas suas extremidades; duas delas, soltas, próximas entre si, adornam a entrada principal: pilotis, no encontro das fachadas sul e leste; espaço articulador que rompe a ortogonalidade do conjunto. A ocupação parcimoniosa do lote permitiu melhor afastamento e ordenamento do espaço, disponibilizando para iluminação e ventilação naturais as faces norte e sul. Nos dois últimos pavimentos caixilhos nas paredes internas, juntos à laje, beneficiam esta circulação com parte da luz natural recebida pelas salas. Estrutura de concreto armado modulada independente e alvenaria para fechamento foram técnicas adotadas na execução da obra. Parte do programa foi solucionada em pequena construção térrea paralela encimada por terraço, unida ao bloco principal pelo avanço do segundo pavimento: auditório. A fachada norte recebeu tratamento de brise-soleil. O edifício está assentado sobre base retangular que define os espaços internos e públicos. Composição com rica modenatura e esquadria, pilares soltos, terraços destacando volumes na fachada sul, empenas cegas, cheios, vazios, linhas retas e oblíquas unindo pavimentos fechando a forma prismática conferem horizontalidade, movimento, ritmo e leveza de volumetria lapidar revestida de pastilhas brancas, integrada ao entorno pelas próprias proporções e na junção dos recuos frontais e passeio público.
IMPORTÂNCIA DA OBRA PARA O MOVIMENTO MODERNO
“O aspecto mais marcante da arquitetura moderna brasileira foi a criatividade ao desenvolver os princípios racionalistas, através da valorização dos elementos plásticos” (FICHER; ACAYABA, 1982, p. 155). O edifício do SESA insere-se dentro da categoria de programas voltados à área da saúde e traz esteticamente fortes traços identificados com a arquitetura moderna carioca produzida a partir da segunda metade da década de 1930. Foi projetado por um arquiteto formado na FNA-RJ, após a reforma de ensino realizada por Lucio Costa e que seria reconhecido pelos relevantes serviços prestados nessa área. De concepção racionalista em bloco único de três pavimentos de volumetria horizontal, revestido de pastilhas cerâmicas, empenas laterais cegas, fachadas trabalhadas de acordo com a incidência solar, em rico desenho de esquadria, modenatura e uso de brise-soleil, cobertura em uma água, estrutura modulada independente, pilotis, terraços, escadas helicoidais e pilares de secção circular soltos rompendo a ortogonalidade etc. É um bom exemplo da arquitetura dos anos 50. Antecede uma série de outros importantes projetos que realizaria em parceria com seu sócio, arquiteto Roberto Nadalutti, dando valiosa contribuição ao estudo, desenvolvimento e normatização da arquitetura hospitalar no Brasil, da qual, ao lado de Jarbas Karman e outros, foram pioneiros.
SOBRE OS AUTORES
Oscar Valdetaro (1924-1976), arquiteto mineiro radicado no Rio de Janeiro, formado na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil em 1946, após a reforma do ensino realizada por Lucio Costa. Foi arquiteto do SESP - Serviço Especial de Saúde Pública, fundação ligada ao Ministério da Educação e Saúde. Especializou-se no Public Health Service, em Washington, entre os anos de 1951 e 1952. Participou dos primeiros esforços para a normatização da arquitetura hospitalar ao lado dos arquitetos Jorge Machado Moreira, Rino Levi, Jarbas Karman, Roberto Cerqueira Cesar e Morales Ribeiro no curso de Arquitetura Hospitalar, organizado pelo IAB-SP na cidade de São Paulo em 1953. Oscar Valdetaro e Roberto Nadalutti, como sócios realizaram projetos de hospitais por todo o país, entre eles: Maternidade Escola Assis Chateaubriand da Universidade do Ceará (1956), Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (1956), Hospital das Clínicas da UFRGS (1958), Hospital Santa Mônica-Belo Horizonte (1962) e o Campus Sede da Universidade Federal Santa Maria–RS (1960) entre outros. Foram os autores dos Padrões Mínimos para Hospitais Gerais de 50 leitos, publicados pelo SESP, e do Projeto de Normas Disciplinadoras das Construções Hospitalares, publicado pelo Ministério da Saúde em 1965. (...) Juntamente com Jarbas Karman, darão importante contribuição para o desenvolvimento da arquitetura hospitalar no país. Ainda, integrou equipe vencedora do concurso para o projeto arquitetônico do Estádio Maracanã - RJ (1948/1950) e em parceria com o arquiteto Roberto Nadalutti venceu concurso para projeto do Centro de Instrução do Corpo de Fuzileiros Navais – RJ (1951).
Autores da ficha: Eduardo Lauand Sobrinho, Francisco José Santoro e René Antonio Nusdeu (“In Memorian”).
Data da ficha: Novembro de 2019