MULHERES NA ARQUITETURA
Elas fizeram história. Vamos contar sua história.
O Docomomo SP inicia um projeto especial para colocar as mulheres na arquitetura no lugar de destaque que merecem.
Sabemos que muitas pioneiras tiveram suas trajetórias apagadas. Para mudar isso, precisamos da sua ajuda!
Convidamos você, pesquisadora ou pesquisador, a contribuir com seus estudos e descobertas sobre essas profissionais. Seu trabalho pode ser essencial para reescrever essa história com mais equidade.
Junte-se a nós nesta missão! Envie sua proposta para nucleo.docomomo.sp@gmail.com e vamos, juntos, dar voz a essas arquitetas.
Acesso ao nosso drive com todos os trabalhos disponibilizados
Arquitetas Maceioenses
Em Maceió, as mulheres são maioria desde a fundação do curso de Arquitetura (1973), mas sua trajetória permanece invisibilizada. Este estudo, vinculado ao mestrado do programa DEHA/UFAL, busca responder: "Onde estão as arquitetas maceioenses?".
A pesquisa objetiva mapear a atuação de arquitetas pioneiras e contemporâneas desde os anos 1950, abrangendo prática projetual, teoria e engajamento social. Metodologicamente, adopta uma abordagem quanti-qualitativa, com levantamento no CAU-AL e Prefeitura, pesquisa bibliográfica e entrevistas. Influências etnográficas sustentam a análise das questões de género no contexto local.
O trabalho preenche uma lacuna crucial ao visibilizar o protagonismo feminino na construção do espaço maceioense, contrastando a expressiva presença atual dessas profissionais com a escassa documentação sobre suas contribuições históricas e contemporâneas.
Arinda da Cruz Sobral
Arinda da Cruz Sobral é reconhecida como a primeira arquiteta do Brasil. Formada pela Escola Nacional de Belas Artes, projetou a Capela São Silvestre (1918) no Rio de Janeiro, uma obra inaugurada com a presença do presidente da República. Apesar disso, sua autoria foi apagada dos registros oficiais por décadas.
Seu resgate histórico é fruto da pesquisa da historiadora Camila Belarmino (IAU-USP), que identificou Arinda entre as primeiras mulheres da arquitetura no Brasil. O estudo revela como a historiografia tradicional omitiu a contribuição feminina, atribuindo "grandes obras" exclusivamente a figuras masculinas. A recuperação dessa trajetória questiona essa narriva e busca oficializar o reconhecimento de Arinda através de uma homenagem pública e da restauração de sua capela.
Carmen Portinho
Este artigo investiga o pensamento da engenheira e urbanista Carmen Portinho à frente do Departamento de Habitação Popular (DHP) através da lente dos corpos femininos. Analisando seus artigos no Correio da Manhã (1946), o estudo explora como Portinho integrou questões do trabalho reprodutivo feminino no debate urbanístico, articulando feminismo e habitação popular.
O objetivo central é decifrar como suas ideias feministas influenciaram os projetos do DHP, examinando o desenho dos conjuntos habitacionais a partir da experiência corpórea das mulheres moradoras. A pesquisa ainda revela a interação entre três papéis femininos fundamentais: a urbanista (Portinho), as residentes e as assistentes sociais que atuavam nos conjuntos.
Ao destacar esta triangulação, o artigo não apenas resgata a contribuição pioneira de Portinho, mas também propõe uma releitura feminista da história da habitação social no Brasil.
Daisy Ruth Igel
Daisy Ruth Igel foi uma arquiteta essencial para a modernização da construção civil no Brasil. Formada no vanguardista Institute of Design de Chicago, ela foi a principal responsável pela introdução e adaptação do modelo do Sweet's Catalog norte-americano ao contexto brasileiro, resultando na criação do Catálogo Brasileiro da Construção (1961-1975), uma publicação fundamental do IAB-SP para arquitetos e indústrias.
A dissertação "Uma rede transnacional de catálogos de construção: do Sweet’s Catalog ao Catálogo Brasileiro da Construção", de Natália Maria Gaspar (orientação: Prof. Dr. Fernando Atique, UNIFESP), resgata a crucial contribuição de Daisy, que havia sido esquecida pela história. O estudo revela como ela atuou como uma ponte intelectual, conectando vanguardas internacionais e facilitando o acesso à informação técnica no Brasil.
Georgia L. Harris Brown
Georgia Louise Harris Brown (1918–1999) foi uma arquiteta estadunidense pioneira que atuou por quatro décadas no Brasil. Formada pela Universidade do Kansas, ela veio ao país em 1953 e aqui permaneceu, tornando-se uma das primeiras mulheres negras a atuar na arquitetura moderna paulista. Seu trabalho inclui projetos industriais emblemáticos, como as fábricas da Kodak em São José dos Campos e da Ford em Osasco.
Sua trajetória é investigada na pesquisa "Atuação das mulheres negras na arquitetura moderna do século 20: estudo sobre Georgia Louise Harris Brown", de Eloah Maria Coelho Rosa (orientação: Profª. Ruth Verde Zein). O estudo resgata a fundamental contribuição dessa profissional, destacando sua expertise técnica em projetos de grande escala e desafiando o apagamento sistemático das mulheres, especialmente das mulheres negras, na história da arquitetura.
Jô Vasconcellos
Jô Vasconcellos (1972-2000) foi uma figura pioneira da arquitetura pós-moderna no Brasil, cuja obra ainda é pouco explorada pela historiografia tradicional. Seu trabalho, desenvolvido principalmente em Minas Gerais, reflete as influências internacionais do movimento adaptadas ao contexto social e cultural brasileiro.
Sua trajetória é o foco da dissertação "Jô Vasconcellos: contribuição à arquitetura pós-moderna no Brasil", desenvolvida pelo pesquisador Pedro Henrique Gomes Cardoso d'Ávila (orientação: Profª. Christine Ramos Mahler). O estudo não apenas mapeia sua produção, mas também analisa como questões sociais, políticas e econômicas da época moldaram sua linguagem arquitetônica singular, preenchendo uma lacuna crucial na história da arquitetura brasileira.
Lina Bo Bardi (I.)
Lina Bo Bardi foi uma arquiteta ítalo-brasileira cuja obra é celebrada pela sua profunda conexão com a cultura popular e pelo diálogo singular entre o antigo e o novo. Sua atuação vai muito além de projetos icônicos como o MASP e o SESC Pompeia, refletindo um constante questionamento sobre o espaço público e a memória coletiva.
Este pensamento é investigado na dissertação “Permanência e inovação: o antigo e o novo nos projetos urbanos de Lina Bo Bardi”, de Raíssa Pereira Cintra de Oliveira (orientada pela prof.ª Fernanda Fernandes da Silva). A pesquisa analisa como Lina solucionou a relação entre patrimônio e modernidade em intervenções urbanas, focando em dois projetos significativos da década de 1980: a proposta para o Vale do Anhangabaú, em São Paulo, e o projeto para o Centro Histórico de Salvador.
Lina Bo Bardi (II.)
Lina Bo Bardi declarou que o projeto do MASP era "ruim e feio" intencionalmente. Essa escolha refletia sua busca por uma "arquitetura da liberdade", onde a funcionalidade e o uso coletivo prevalecessem sobre a forma estética tradicional. Ela priorizou criar um espaço utilizável pelo povo, onde a coletividade pudesse moldar os espaços livres.
Esta postura a alinhava a um movimento global de artistas e arquitetos que, no pós-guerra, questionavam os ideais abstratos da modernidade europeia. Figuras como Hélio Oiticica e Jean Dubuffet também exploravam formas "brutas" ou "primitivas" para melhor conectar a arte e a arquitetura com a complexidade da vida real.
Ao abraçar conceitos como o feio, o ruim e o popular, Lina Bo Bardi propôs uma poderosa expansão do modernismo. Seu trabalho desafia os cânones europeus e oferece ferramentas críticas para entender a arquitetura em contextos diversos, tornando-a uma figura central para se repensar a história e os conceitos da modernidade.
Maria do Carmo Schwab
Maria do Carmo Schwab (1930–) foi uma arquiteta pioneira no Espírito Santo, com uma trajetória marcante que incluiu a participação no projeto do Conjunto Pedregulho, no Rio, sob a orientação de Affonso Eduardo Reidy. De volta ao seu estado, tornou-se a primeira mulher a presidir um departamento estadual do IAB no Brasil, deixando um legado de projetos residenciais e institucionais com uma linguagem moderna e adaptada ao contexto local.
Sua obra é analisada na dissertação "Uma investigação sobre a linguagem projetual: repertório e processos de projeto na obra de Maria do Carmo Schwab", de Julia Pela Meneghel (PPGAU-UFBA). A pesquisa, organizada em quatro eixos (Edifício-Sítio, Programático-Funcional, Material-Técnico e Estético-Formal), revela a consistência e inovação de seu método, valorizando as modernidades regionais além do eixo Rio-São Paulo.
Mayumi Watanabe
Mayumi Watanabe foi uma arquiteta e urbanista brasileira que dirigiu o Centro de Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos e Comunitários (CEDEC) durante a gestão de Luiza Erundina (1989–1992) em São Paulo. Sob sua liderança, a equipe projetou Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs) inovadoras, utilizando técnicas como a argamassa armada pré-moldada. Seus projetos se destacaram pela criação de espaços lúdicos e pela forte integração com o entorno urbano.
Sua contribuição é analisada na dissertação “Arquitetura da Educação: uma análise das escolas municipais de ensino infantil de Mayumi Watanabe de Souza Lima”, de Lígia Gimenes Paschoal (orientada pela prof.ª Tatiana Sakurai). A pesquisa, inserida na área de Arquitetura e Urbanismo, adota uma abordagem qualitativa para investigar as transformações espaciais dessas EMEIs, utilizando entrevistas, análise de projetos, documentação primária e estudo gráfico.
Lygia Fernandes, Zélia Maia Nobre e Simone Mendes Normande
A historiografia da arquitetura moderna brasileira privilegiou arquitetos homens de centros consagrados, com raras mulheres mencionadas. A citação de Lygia Fernandes em Maceió (1955) inspirou novas pesquisas sobre pioneiras locais, revelando Zélia Maia Nobre como figura central.
Um levantamento no arquivo da Prefeitura de Maceió, focado no período 1950-1970, identificou obras modernas de valor histórico no centro da cidade. O estudo destaca três projetos emblemáticos: a Sociedade de Medicina (Lygia Fernandes, 1956), o IPASEAL (Zélia Maia Nobre, 1969) e o SENAC (Simone Mendes Normande, 1975).
Estas obras demonstram uma expressão plástica moderna singularmente adaptada ao contexto social e geográfico de Maceió, contribuindo para resgatar o legado feminino na arquitetura moderna brasileira e reinserir a produção local no panorama nacional.
Manuella Marianna Carvalho R. Andrade
Ítalo Monteiro de Oliveira Mariano Gomes
Marina Waisman
Marina Waisman foi uma das críticas e historiadoras da arquitetura mais influentes da América Latina. Nascida na Argentina, seu trabalho foi fundamental para a construção de uma perspectiva crítica própria sobre a arquitetura moderna e contemporânea na região. Ela enfatizou a importância do contexto cultural, social e histórico na leitura da produção arquitetônica latino-americana, ajudando a descentralizar a visão eurocêntrica da história da arquitetura.
Sua obra é referência obrigatória para entender os processos de modernização nas cidades da América Latina. Waisman não apenas analisou o passado, mas também forneceu as ferramentas intelectuais para que novas gerações de arquitetos pudessem projetar com uma identidade culturalmente situada, valorizando a rica e complexa realidade do continente.
Zélia Maia Nobre
Zélia Maia Nobre foi uma arquiteta pioneira em Alagoas, fundamental para a consolidação da arquitetura moderna no estado. Ela fundou o curso de Arquitetura da UFAL e coordenou setores estaduais de obras e patrimônio histórico, liderando diversos restauros. Sua produção notável inclui residências modernas em Maceió, though sua obra permanece pouco estudada.
Este trabalho busca preencher essa lacuna, analisando sete de suas residências projetadas entre 1957-1977. Através de entrevistas, pesquisa documental e iconográfica, o estudo traça sua trajetória e examina seus projetos sob critérios de funcionalidade, permeabilidade e estética. O objetivo é compreender as particularidades de sua arquitetura e contribuir para o reconhecimento do protagonismo feminino na história da arquitetura brasileira, resgatando este importante legado modernista.
Tania Horta
Este artigo resgata a trajetória da arquiteta carioca Tania Horta e seu projeto para o Centro de Atividades do SESI em Crato-CE (1973). A análise aborda duas margens de invisibilidade: a de gênero, pela exclusão das mulheres na historiografia, e a geográfica, pela negligência da produção moderna no sertão nordestino.
O projeto do CAT SESI demonstra racionalidade construtiva e diálogo com a industrialização, característicos da arquitetura dos anos 1960-70. Apesar de divulgado pontualmente na revista AB Arquitetura (1979), a obra permaneceu no anonimato.
Através da análise documental e do acervo da arquiteta, este estudo busca reinserir Tania Horta no debate acadêmico. A combinação entre a figura da mulher arquiteta e a arquitetura moderna no sertão aponta a urgência de ampliar olhares para as margens, revelando um fértil campo de pesquisa para a disciplina.