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NOTA DE REPÚDIO

PATRIMÔNIO EM RISCO

Balneário Teotônio Villela (1971), Águas da Prata - SP

Projeto de João Walter Toscano, Odileia Toscano e Massayoushi Kamimura

Novamente o Núcleo Docomomo São Paulo vem manifestar-se contra as invenções que ameaçam a integridade do Balneário Teotônio Villela (1971), em Águas da Prata. A Prefeitura Municipal da Estância Hidromineral de Águas da Prata está realizando uma reforma no Balneário que coloca em risco a preservação do patrimônio artístico, arquitetônico e turístico do Estado de São Paulo.

Marco da arquitetura modernista o balneário foi inaugurado em 1974, com o projeto da equipe de arquitetos: João Walter Toscano, Odileia Toscano e Massayoushi Kamimura, e foi escolhido para integrar o acervo permanente do Centre Georges Pompidou de Paris, em 2009. A importância da obra é referenciada nos principais livros de Arquitetura Moderna do país, sendo também objeto de trabalhos acadêmicos. Recebeu o prêmio Rino Levi do Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento São Paulo (IAB-SP), em 1974, e integra a história da arquitetura paulista e brasileira. O conjunto do balneário foi durante décadas, o marco turístico da cidade, um dos 11 municípios considerados estâncias minerais no Estado de São Paulo. Localizado na entrada da cidade, cumpre o papel de identidade e cartão postal da cidade.

Idealizado em momento de valorização das águas minerais no tratamento de várias doenças, o conjunto está localizado em território com oito nascentes de água com diferentes composições, e oferecia grande potencial turístico, sendo o balneário o elemento estruturador do desenvolvimento econômico e urbano de Águas da Prata.  

Para quem chega à cidade, de pouco mais de 7 mil habitantes, o prédio em concreto armado sempre foi uma referência na paisagem, destacando-se e, ao mesmo tempo, mimetizando-se com o verde da mata que o cerca. Localizado ao lado de uma área de proteção ambiental, o majestoso prédio integra-se com a natureza em uma rica conexão entre o interior e exterior, inundando de luz os amplos espaços, destacando preciosidades e marcos da história da arquitetura paulista.

A edificação, originalmente, pensada como espaço destinado para atividades culturais, esportivas, recreação, ócio e lazer com instalações termais, auditório, espaços esportivos e comerciais, hoje se encontra abandonada, degradada e ameaçada.

Tirando proveito da topografia, o volume semicircular em concreto armado é semi apoiado no terreno e sobre pilotis, acompanhando as curvas de nível, libera o solo criando no térreo uma praça coberta para abrigar atividades sociais, abrindo visuais para a natureza e para a cidade. Com estrutura em concreto aparente, no pavimento superior, localizam-se os banhos abertos à paisagem. A fachada frontal, com aberturas em fita, mira a montanha à sua frente e ganha dinâmica com os brise-soleil em aço perfurado. Compatibilizando os desafios da natureza, do programa e dos materiais, o balneário resulta em uma composição plástica de grande equilíbrio. 

Fechado desde 1998, como Balneário, a estrutura física resistiu ao tempo e abrigou, até pouco tempo, setores da Prefeitura Municipal de Águas da Prata e até mesmo um equipamento esportivo. Foi palco neste período de diversas exposições culturais e de instalações artísticas. Nem o abandono e as diversas tentativas frustradas de reforma o fizeram perecer. Até agora.

A reforma levada em curso pela Prefeitura da cidade ameaça a integridade do projeto original, comprometendo a preservação da arquitetura e a importância histórica do prédio. Como patrimônio da cidade e do estado, o Balneário é um símbolo da inovação e excelência, a edificação é um magistral exemplar  da arquitetura moderna brasileira na segunda metade do século XX, que deve ser preservado para as gerações futuras. Dentre as alterações em curso, destaca-se a pintura do concreto armado, a retirada dos anteparos solares, brise-soleil, a colocação de um forro de gesso ocultando os vãos da estrutura em concreto armado da laje, no teto do primeiro pavimento, a cobertura com alvenaria dos cobogós, dentre muitas outras. Além disso, há indícios de que outras características importantes, como a iluminação zenital do anfiteatro e a retirada das longarinas desenhadas por Sérgio Rodrigues, também estejam ameaçadas, considerando o Memorial Descritivo da reforma em questão.

Na execução da reforma, há ainda uma série de irregularidades denunciadas ao Ministério Público, para apuração, que versam desde a ausência de documentação arquitetônica de projeto executivo até o uso indevido de dinheiro público proveniente do tesouro municipal.

Expressamos nossa defesa pela revitalização e o bom uso do espaço público, porém se faz urgente que se tomem as medidas necessárias para preservar o Balneário de Águas da Prata, garantindo que ele continue sendo um marco da arquitetura, capaz de inspirar e encantar as gerações presentes e futuras.

A história e a cultura do nosso país merecem respeito e proteção, e não podem ser sacrificadas em nome de projetos passageiros, razão pela qual, solicitamos uma rápida atuação do Ministério Público Estadual, na figura do Exmo. Sr.  Donizete T. de Oliveira, segundo Promotor de Justiça da Comarca de São João da Boa Vista, bem como ao Procurador da República Leandro Zedes Lares Fernandes, que atende aquela comarca.

Trata-se de um bem cultural da maior relevância para a cidade de Águas da Prata e para a história da arquitetura paulista, cujo projeto permite inúmeras atualizações de uso sem a sua descaracterização. Dada a evidente necessidade de  proteção desse importante bem, o Núcleo Docomomo SP defende enfaticamente o seu tombamento, pedido já encaminhado ao Condephaat, bem como o seu restauro arquitetônico.      

Coordenação do Núcleo Docomomo São Paulo

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