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RESIDÊNCIA JON MAITREJEAN

São Paulo - SP 

Autor: Jon Maitrejean

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Imagens da obra

Imagens do projeto

FICHA TÉCNICA

Nome da obra: Residência Jon Maitrejean.
Data da construção: 1971-1972 (projeto: 1969-70).
Localização: Rua Chiquinha Rodrigues, Nº 89 – Bairro Caxingui, Butantã, São Paulo-SP.
Autor arquiteto: Jon Maitrejean.
Intervenções posteriores: não houve.
Tamanho do lote e área construída: 1.106, 25 m² / 367,40 m² (área da casa 180 m²).
Tombamento: não houve.

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

ACAYABA, M. M. Residências em São Paulo: 1947-1975. São Paulo: Romano Guerra, 2011.
ALMEIDA, E.; TEIXEIRA, K. A. Jon Maitrejean: A casa como mote de reflexão e experimentação. Arquitextos (Vitruvius, online), São Paulo, Ano 09, n. 102.01, nov. 2008.
BELLEZA, G. S. D. O. Metodologia na apresentação de projetos de cinco arquitetos. 1997. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Universidade de São Paulo, São Paulo. 1997.
CASA CLÁUDIA. Casa do arquiteto Jon Maitrejean. Casa Cláudia, n. 135-A, p. 54-56, dez. 1972.
CONSTRUÇÃO EM SÃO PAULO. Residência do arquiteto Jon Maitrejean (1971). A Construção em São Paulo, São Paulo, Ano 25, n. 1811, p. 24, 25 out. 1982.
VÁZQUEZ RAMOS, F. G.; BUZZAR, M. A.; FUJIOKA, P. Y. Introdução à obra de Jon Maitrejean. Risco (Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo, online), São Carlos, n. 16 (2), p. 113-133, 2018.
VÁZQUEZ RAMOS, F. G.; BUZZAR, M. A.; FUJIOKA, P. Y. Jon Maitrejean. In: SEMINÁRIO DOCOMOMO SÃO PAULO, 6., 2018, São Carlos. Caderno dos homenageados, São Carlos: IAU-USP, 2018, p. 24-35.
XAVIER, A.; LEMOS, C; CORONA, E. Arquitetura moderna paulistana. São Paulo: Pini, 1983.
WEINTRAUB, A.; HESS, A. LEFÈVRE, J. E. Casa Modernista: A history of the Brazil Modern House. New York: Rizzoli, 2010.

SOBRE A OBRA

Trata-se de uma residência térrea, que se ergue sobre meio andar ao nível da rua (local da garagem). Assim, desde a rua, chega-se à casa atravessando a garagem e subindo por um par de escadas (uma de serviço, e outra que chega ao terraço social, após um giro de 90º). A implantação aproveita desta forma, criando um platô que se debruça sobre a calçada a 3 m de altura, o forte desnível do terreno. O acesso torna-se despretensioso e funcional para quem chega de carro ou a pé, não só desde o ponto de vista da espacialidade, mas também dos materiais, blocos de concreto e estrutura de concreto armado, sem reboco e sem pintar. As escadas são confortáveis, sem pisadas ou espelhos de revestimento, dura na sua concretude construtiva, e apesar de emparedadas entre os muros de contenção, a ausência de cobertura lhes dá uma amplitude visual considerável. A chegada ao piano nobile da residência, onde a casa se descortina (ainda que sua fachada principal possa ser vista desde a rua), é convidativo, pois o visitante é recebido em um amplo terraço rodeado de exuberante jardim. A casa é compacta, formada por três módulos, sendo dois laterais (4,5m) e um central mais largo (5,5m). O módulo do lado leste está destinado à área social, incluindo um lavabo, na frente, e à cozinha, no fundo. No módulo central, se encontra a área de acesso à casa, debruçada sobre o terraço de acesso e seguida de um pátio/jardim é muito luminosa, o jardim interior conta com uma grande abertura zenital, e na sequência deste, fechando o módulo, a área da sala de jantar, ligada lateralmente à cozinha e conectada através de uma grande porta balcão ao terraço posterior (de fato, um pátio interno que liga a casa principal ao escritório do arquiteto situado nos fundos do terreno). O terceiro módulo responde pela área privativa da casa, onde se localizam os dormitórios e banheiros, no entanto estes cômodos se abrem diretamente sobre o módulo central sem promover a tradicional privacidade que se espera em residências deste período. A materialidade é austera, igual à da garagem, blocos de concreto sem revestimento, mas a estrutura principal é metálica, uma leve viga treliça de ferro de quase 10 m, sobre a qual se apoia a cobertura de telhas de alumínio. A estrutura secundária é pouco convencional também, são vigas ocas de chapa de madeira em forma de sanduíche pré-montadas. Os caixilhos são de alumínio e os vidros são temperados. As divisórias são pré-fabricadas de chapas Duraplac (da Duratex). O projeto radical investiga outra forma de ocupação do lote urbano. Sua intenção original negava os recuos laterais, não possuindo janelas para eles, os dormitórios e a ampla sala se debruçam sobre o pátio central. A imposição da legislação urbana manteve os recuos, e as ventilações dos banheiros acabaram dando para um deles. A vida, na casa, se desenvolve de forma coletiva ao redor do pátio. (parte deste texto foi extraída de VÁZQUEZ RAMOS; BUZZAR; FUJIOKA, 2018)

IMPORTÂNCIA DA OBRA PARA O MOVIMENTO MODERNO 

A pequena casa que o arquiteto Maitrejean construiu para sua família no início dos anos 1970 é um exemplo acabado de modulação e uso racional dos materiais, com um resultado plástico despojado que representa cabalmente os conceitos estéticos dominantes na produção arquitetônica moderna dessa década (não só no Brasil). A racionalidade também alcança o sistema construtivo, tanto na utilização de blocos de concreto, que era técnica consagrada, como na incorporação de vigas metálicas treliçadas para salvar o grande vão central, o que não era comum. A utilização da leve estrutura metálica, adequada por ser uma solução simples, barata e rápida, contudo, causou perplexidade entre seus colegas à época, acostumados, como estavam, ao uso do concreto armado. Na casa, o arquiteto ainda utiliza um sistema de divisórias leves (Duratex) para a definição dos cômodos, proposta que, de forma contundente, indica o predomínio de um entendimento industrial na produção de obras por parte dos arquitetos modernos. Finalmente, o partido adotado produz um espaço de uso coletivo interior, sobre o qual se debruçam, e se abrem, de forma direta as diferentes áreas de uso da casa (dormitórios, serviços, estar, acesso etc.), revertendo a fragmentação espacial interior tradicional da moradia de classe média paulista. Sem concessões, a casa é um manifesto, que propõe um sistema contínuo, replicável, de casas geminadas ad infinitum, contesta a lógica urbana do lote isolado, enfatizando o entendimento coletivo da cidade promovido pelo Movimento Moderno desde as experiências europeias dos anos 1920.

SOBRE OS AUTORES 

Jon Maitrejean (Eibar/Espanha, 1929) se dedicou de forma intensa a desenvolver trabalhos relacionados a processos de industrialização da construção e sua incorporação para edificações de grande porte. Como arquiteto, encarou a “arquitetura comercial” de forma pragmática, mas munido de uma inegável perícia e capacidade técnica, de uma evidente veia criativa, não só desde o ponto de vista formal, desenvolvendo, sobretudo, novos sistemas construtivos e utilizando novos materiais. Maitrejean ingressou em 1949 na segunda turma da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, finalizando em 1953, sendo que em 1954 se tornou professor auxiliar. Foi aposentado compulsoriamente, junto com outros colegas da USP, pelo AI5, em 1969, e só voltou à escola que tinha ajudado a fundar e construir, em 1980. Manteve desde os anos 1950 uma intensa participação nos órgãos de defesa da profissão do arquiteto urbanista. Engajou-se primeiro no IAB/SP e foi presidente do SASP (1978-1980). Foi ainda conselheiro no CREA e no CONDEPHAAT (2000-210). Fundou seu primeiro escritório em 1955, não só projetando residências, mas também fábricas. No final da década de 1960, começou a trabalhar para a Duratex, mas em 1975 constitui o escritório de projetos Maitrejean & Sallouti Associados Arquitetos, cuja principal linha de atuação seria de projetos de empreendimentos comerciais. Ainda assim, a produção do escritório como um todo foi bem diversificada, produto da experiência de seus sócios e dos conhecimentos adquiridos no desenvolvimento de diversos programas arquitetônicos, associado a uma metodologia consistente de projeto e de produção de projetos. (excerto de VÁZQUEZ RAMOS; BUZZAR; FUJIOKA, 2018

Autores da ficha: Fernando Guillermo Vázquez Ramos; Miguel Antonio Buzzar; Paulo Yassuhide Fujioka.

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