RESIDÊNCIA JON MAITREJEAN
São Paulo - SP
Autor: Jon Maitrejean
Fachada Principal sobre a Rua Chiquinha Rodrigues (1972). Fonte: acervo Shieh Shueh Yau.
Jardim interno com a lareira, que foi instalada posteriormente (2018). Fotografia de: Paulo Yassuhide Fujioka.
Detalhe parede dos dormitórios e viga metálica (2018). Fotografia de: Paulo Yassuhide Fujioka.
Fachada Principal sobre a Rua Chiquinha Rodrigues (1972). Fonte: acervo Shieh Shueh Yau.
Imagens da obra
Planta do piano nobile. Redesenho Fernando G. Vázquez Ramos.
Corte transversal. Redesenho Fernando G. Vázquez Ramos.
Planta do piano nobile. Redesenho Fernando G. Vázquez Ramos.
Imagens do projeto
FICHA TÉCNICA
Nome da obra: Residência Jon Maitrejean.
Data da construção: 1971-1972 (projeto: 1969-70).
Localização: Rua Chiquinha Rodrigues, Nº 89 – Bairro Caxingui, Butantã, São Paulo-SP.
Autor arquiteto: Jon Maitrejean.
Intervenções posteriores: não houve.
Tamanho do lote e área construída: 1.106, 25 m² / 367,40 m² (área da casa 180 m²).
Tombamento: não houve.
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
ACAYABA, M. M. Residências em São Paulo: 1947-1975. São Paulo: Romano Guerra, 2011.
ALMEIDA, E.; TEIXEIRA, K. A. Jon Maitrejean: A casa como mote de reflexão e experimentação. Arquitextos (Vitruvius, online), São Paulo, Ano 09, n. 102.01, nov. 2008.
BELLEZA, G. S. D. O. Metodologia na apresentação de projetos de cinco arquitetos. 1997. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – Universidade de São Paulo, São Paulo. 1997.
CASA CLÁUDIA. Casa do arquiteto Jon Maitrejean. Casa Cláudia, n. 135-A, p. 54-56, dez. 1972.
CONSTRUÇÃO EM SÃO PAULO. Residência do arquiteto Jon Maitrejean (1971). A Construção em São Paulo, São Paulo, Ano 25, n. 1811, p. 24, 25 out. 1982.
VÁZQUEZ RAMOS, F. G.; BUZZAR, M. A.; FUJIOKA, P. Y. Introdução à obra de Jon Maitrejean. Risco (Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo, online), São Carlos, n. 16 (2), p. 113-133, 2018.
VÁZQUEZ RAMOS, F. G.; BUZZAR, M. A.; FUJIOKA, P. Y. Jon Maitrejean. In: SEMINÁRIO DOCOMOMO SÃO PAULO, 6., 2018, São Carlos. Caderno dos homenageados, São Carlos: IAU-USP, 2018, p. 24-35.
XAVIER, A.; LEMOS, C; CORONA, E. Arquitetura moderna paulistana. São Paulo: Pini, 1983.
WEINTRAUB, A.; HESS, A. LEFÈVRE, J. E. Casa Modernista: A history of the Brazil Modern House. New York: Rizzoli, 2010.
SOBRE A OBRA
Trata-se de uma residência térrea, que se ergue sobre meio andar ao nível da rua (local da garagem). Assim, desde a rua, chega-se à casa atravessando a garagem e subindo por um par de escadas (uma de serviço, e outra que chega ao terraço social, após um giro de 90º). A implantação aproveita desta forma, criando um platô que se debruça sobre a calçada a 3 m de altura, o forte desnível do terreno. O acesso torna-se despretensioso e funcional para quem chega de carro ou a pé, não só desde o ponto de vista da espacialidade, mas também dos materiais, blocos de concreto e estrutura de concreto armado, sem reboco e sem pintar. As escadas são confortáveis, sem pisadas ou espelhos de revestimento, dura na sua concretude construtiva, e apesar de emparedadas entre os muros de contenção, a ausência de cobertura lhes dá uma amplitude visual considerável. A chegada ao piano nobile da residência, onde a casa se descortina (ainda que sua fachada principal possa ser vista desde a rua), é convidativo, pois o visitante é recebido em um amplo terraço rodeado de exuberante jardim. A casa é compacta, formada por três módulos, sendo dois laterais (4,5m) e um central mais largo (5,5m). O módulo do lado leste está destinado à área social, incluindo um lavabo, na frente, e à cozinha, no fundo. No módulo central, se encontra a área de acesso à casa, debruçada sobre o terraço de acesso e seguida de um pátio/jardim é muito luminosa, o jardim interior conta com uma grande abertura zenital, e na sequência deste, fechando o módulo, a área da sala de jantar, ligada lateralmente à cozinha e conectada através de uma grande porta balcão ao terraço posterior (de fato, um pátio interno que liga a casa principal ao escritório do arquiteto situado nos fundos do terreno). O terceiro módulo responde pela área privativa da casa, onde se localizam os dormitórios e banheiros, no entanto estes cômodos se abrem diretamente sobre o módulo central sem promover a tradicional privacidade que se espera em residências deste período. A materialidade é austera, igual à da garagem, blocos de concreto sem revestimento, mas a estrutura principal é metálica, uma leve viga treliça de ferro de quase 10 m, sobre a qual se apoia a cobertura de telhas de alumínio. A estrutura secundária é pouco convencional também, são vigas ocas de chapa de madeira em forma de sanduíche pré-montadas. Os caixilhos são de alumínio e os vidros são temperados. As divisórias são pré-fabricadas de chapas Duraplac (da Duratex). O projeto radical investiga outra forma de ocupação do lote urbano. Sua intenção original negava os recuos laterais, não possuindo janelas para eles, os dormitórios e a ampla sala se debruçam sobre o pátio central. A imposição da legislação urbana manteve os recuos, e as ventilações dos banheiros acabaram dando para um deles. A vida, na casa, se desenvolve de forma coletiva ao redor do pátio. (parte deste texto foi extraída de VÁZQUEZ RAMOS; BUZZAR; FUJIOKA, 2018)
IMPORTÂNCIA DA OBRA PARA O MOVIMENTO MODERNO
A pequena casa que o arquiteto Maitrejean construiu para sua família no início dos anos 1970 é um exemplo acabado de modulação e uso racional dos materiais, com um resultado plástico despojado que representa cabalmente os conceitos estéticos dominantes na produção arquitetônica moderna dessa década (não só no Brasil). A racionalidade também alcança o sistema construtivo, tanto na utilização de blocos de concreto, que era técnica consagrada, como na incorporação de vigas metálicas treliçadas para salvar o grande vão central, o que não era comum. A utilização da leve estrutura metálica, adequada por ser uma solução simples, barata e rápida, contudo, causou perplexidade entre seus colegas à época, acostumados, como estavam, ao uso do concreto armado. Na casa, o arquiteto ainda utiliza um sistema de divisórias leves (Duratex) para a definição dos cômodos, proposta que, de forma contundente, indica o predomínio de um entendimento industrial na produção de obras por parte dos arquitetos modernos. Finalmente, o partido adotado produz um espaço de uso coletivo interior, sobre o qual se debruçam, e se abrem, de forma direta as diferentes áreas de uso da casa (dormitórios, serviços, estar, acesso etc.), revertendo a fragmentação espacial interior tradicional da moradia de classe média paulista. Sem concessões, a casa é um manifesto, que propõe um sistema contínuo, replicável, de casas geminadas ad infinitum, contesta a lógica urbana do lote isolado, enfatizando o entendimento coletivo da cidade promovido pelo Movimento Moderno desde as experiências europeias dos anos 1920.
SOBRE OS AUTORES
Jon Maitrejean (Eibar/Espanha, 1929) se dedicou de forma intensa a desenvolver trabalhos relacionados a processos de industrialização da construção e sua incorporação para edificações de grande porte. Como arquiteto, encarou a “arquitetura comercial” de forma pragmática, mas munido de uma inegável perícia e capacidade técnica, de uma evidente veia criativa, não só desde o ponto de vista formal, desenvolvendo, sobretudo, novos sistemas construtivos e utilizando novos materiais. Maitrejean ingressou em 1949 na segunda turma da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, finalizando em 1953, sendo que em 1954 se tornou professor auxiliar. Foi aposentado compulsoriamente, junto com outros colegas da USP, pelo AI5, em 1969, e só voltou à escola que tinha ajudado a fundar e construir, em 1980. Manteve desde os anos 1950 uma intensa participação nos órgãos de defesa da profissão do arquiteto urbanista. Engajou-se primeiro no IAB/SP e foi presidente do SASP (1978-1980). Foi ainda conselheiro no CREA e no CONDEPHAAT (2000-210). Fundou seu primeiro escritório em 1955, não só projetando residências, mas também fábricas. No final da década de 1960, começou a trabalhar para a Duratex, mas em 1975 constitui o escritório de projetos Maitrejean & Sallouti Associados Arquitetos, cuja principal linha de atuação seria de projetos de empreendimentos comerciais. Ainda assim, a produção do escritório como um todo foi bem diversificada, produto da experiência de seus sócios e dos conhecimentos adquiridos no desenvolvimento de diversos programas arquitetônicos, associado a uma metodologia consistente de projeto e de produção de projetos. (excerto de VÁZQUEZ RAMOS; BUZZAR; FUJIOKA, 2018
Autores da ficha: Fernando Guillermo Vázquez Ramos; Miguel Antonio Buzzar; Paulo Yassuhide Fujioka.