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O Núcleo Docomomo SP repudia a destruição do Conjunto Aquático da Associação Portuguesa de Desportos



Fotos: José Moscardi. Fonte: Revista Acrópole, ano 29, n° 348, p. 30 e 31, mar 1968

O Núcleo Docomomo São Paulo lamenta e repudia a demolição ilegal, um ato de vandalismo urbano, do Conjunto Aquático da Associação Portuguesa de Desportos, localizado no terreno do estádio da Associação no Canindé. O conjunto formava parte do amplo projeto que João B. Vilanova Artigas em colaboração com Carlos Cascaldi fizeram para o clube em 1962 (inaugurado em 1965). Ainda que a proposta original para o conjunto esportivo não tenha sido realizada, foi construída uma versão modificada do Conjunto Aquático. Composto de quatro piscinas, arquibancada, vestiários e a escultural torre de saltos, com suas três plataformas e quase 20 m de altura, o complexo constituía uma unidade arquitetônica cabal, de reconhecida qualidade plástica, e resultado evidente de um elaborado projeto de conjunto que se integrou imediatamente às atividades do clube como um espaço de convívio, inseparável de suas aspirações sociais.

Além da relevância para os próprios associados, esse complexo é muito importante no conjunto das obras de Artigas (e de Cascaldi), pois se trata do projeto que fecha o ciclo de “clubes” que os arquitetos desenvolveram desde 1952, quando realizaram o projeto para o São Paulo Futebol Clube, o estádio Cícero Pompeu de Toledo, no Morumbi, ao qual se somaram obras como o anteprojeto para o Clube Municipal de Londrina, de 1953, e os reconhecidos projetos para a Sede Social do Anhembi Tênis Clube, a Garagem de Barcos do Santapaula Iate Clube e os Vestiários e piscinas do São Paulo Futebol Clube, todos de 1961.

O Conjunto Aquático foi alvo de destruição pelas autoridades dirigentes da Associação Portuguesa de Desportos. A demolição desse conjunto ímpar deixa consternada a comunidade Lusa e também a acadêmica que foram surpreendidas pela ação premeditada dos dirigentes, que, sem mediar trâmite algum perante a Prefeitura Municipal de São Paulo, procederam à destruição desse patrimônio arquitetônico e cultural que não tinha conseguido proteção legal por meio de instrumentos como o tombamento.

Desde 2016, existiam intenções, por parte de um grupo de sócios da Portuguesa, de solicitar o tombamento do Complexo Esportivo Doutor Osvaldo Teixeira Duarte, um terreno de mais de 100.000m² onde se encontrava o Complexo Aquático. O pedido de tombamento foi dirigido ao Condephaat, que, no entanto, foi contrário à solicitação, arquivando o processo em 2017. Ainda assim, as ações dos sócios continuaram. No mês de março deste ano, torcedores se organizaram para um abaixo assinado solicitando o tombamento do complexo, que, segundo afirmam seus patrocinadores, “já foi assinado por cinco mil pessoas e destaca que a Lusa está ‘sob ameaça de desaparecimento’.’’

Nada de tudo isso foi suficiente para impedir a demolição ilegal do conjunto. O Núcleo Docomomo São Paulo solicita às autoridades municipais que averiguem o ocorrido, tendo em vista que a irregularidade da ação de demolição acarretou na aceleração de um processo de destruição que ainda poderia estar em debate, considerando o posicionamento de parte dos sócios do clube. Caso a obra viesse a ser incluída no conjunto de bens culturais do município, os responsáveis do clube seriam obrigados a consultar os departamentos técnicos dos órgãos de proteção para qualquer intervenção. Nesse caso, poderia ter sido solicitado um projeto de reforma que considerasse as construções existentes, especialmente a torre de saltos, adaptando-as aos novos usos desejados. Não é destruindo o patrimônio cultural dos paulistanos que a Portuguesa será salva.


Fotos: José Moscardi. Fonte: Revista Acrópole, ano 29, n° 348, p. 30 e 31, mar 1968.

NÚCLEO DOCOMOMO SÃO PAULO


Referências: ACROPOLE. Torre de saltos, piscina e arquibancadas. Acropole, São Paulo, ano 29, n. 348, p. 30-33, mar. 1968. Disponível em: <http://www.acropole.fau.usp.br/edicao/348>. Aceso em: 28 jul. 2018. FERRAZ, Marcelo C. (org.). Vilanova Artigas. Lisboa/São Paulo: Blau / Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi / Fundação Vilanova Artigas, 1997, p. 120-121. GALDEANO, Andreza; Beraldo, Paulo. Com abaixo-assinado, torcida tenta salvar Canindé e a Portuguesa. Estadão Esportes. São Paulo, on line, 30 mar. 2018. Disponível em: <https://esportes.estadao.com.br/…/futebol,torcida-tenta-sal…>. Acesso em: 28 jul. 2018. MUNDO LUSÍADA. Portuguesa divulga nota oficial sobre demolição das piscinas. Mundo Lusíada. São Paulo, on line, 6 jun. 2018. Disponível em: <https://www.mundolusiada.com.br/…/portuguesadivulga-nota-o…/>. Acesso em: 28 jul. 2018. QUINTELLA, Sérgio; ROSÁRIO, Mariana. Era uma vez um clube. Veja São Paulo, São Paulo, ano 51, n. 31, p. 22-28, 1 ago. 2018. Disponível em: <https://vejasp.abril.com.br/cidades/clube-portuguesa-crise/>. Acesso em: 28 jul. 2018.


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