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NOTA DE PESAR: JON MAITREJEAN



Lamentamos comunicar o falecimento, ontem (21/04/2023), do arquiteto Jon Andoni Vergarcche Maitrejean.


O Núcleo Docomomo São Paulo, expressa seus sentimentos e condolências à família e aos amigos do importante arquiteto paulista, que durante mais de 70 anos atuou de forma brilhante e ininterrupta na construção e consolidação da arquitetura moderna no Brasil.


Professor, profissional engajado, arquiteto e, fundamentalmente, homem de espirito


Jon Andoni Vergareche Maitrejean (Eibar, Espanha, 1929 – São Paulo, 2023) ingressou em 1949, como primeiro colocado, na segunda turma da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Nesses primeiros anos de funcionamento da FAU-USP a grade curricular era uma mistura entre disciplinas técnicas oriundas da Escola Politécnica, e artísticas, ministradas por artistas plásticos. Engenheiros-arquitetos, como João Batista Vilanova Artigas, faziam parte também do variado conglomerado de profissionais docentes voltados não somente para à arquitetura, como ao urbanismo. Maitrejean seguiu as propostas de Artigas e a ele esteve vinculado, primeiro como aluno e depois como amigo durante muitos anos.


Egresso da FAU em 1953, tornou-se docente já em novembro de 1954, por indicação de Abelardo Reidy de Souza. Tratava-se uma disciplina importante, pois a Cadeira de Composição, herdada da tradição Politécnica, era a que diferenciava a formação de engenheiros da dos arquitetos (engenheiro-arquiteto), pois nela o objeto de estudo e ensino eram edificações.


Teve participação ativa no Conselho Universitário da USP de 1968 até 1969, quando em função de seu posicionamento político foi aposentado compulsoriamente pelo vergonhoso Ato Institucional nº 5, que cassou 24 professores da USP, entre eles Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha. Os três professores da FAU-USP foram reintegrados no segundo semestre de 1980, como docentes “em início de carreira”. Maitrejean, foi professor de Projeto até sua aposentadoria em 1987. De 1977 até 1983, no período em que foi alijado da USP pela Ditadura, foi docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos (FAUS), da qual foi também Diretor. Entre 1994 e 2019, foi professor no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas Tadeu, sua última atividade docente.


Maitrejean manteve desde os anos 1950 uma intensa participação nos órgãos de defesa da profissão do arquiteto. Engajou-se primeiro no IAB-SP, o Instituto dos Arquitetos do Brasil, Departamento de São Paulo, onde tornou-se cedo Conselheiro Diretor em 1955 e 2º Secretário na gestão de Julio José Franco Neves (1966-67). Posteriormente, foi Conselheiro Superior (titular) nas gestões de Paulo Mendes da Rocha (1972-73) e de Cesar Galha Bergsrtom Lourenço (1980-81); e, finalmente formou parte da diretoria do IAB-SP na gestão de Fabio de Moura Penteado (1994-95). Foi Presidente do Sindicato dos Arquitetos de São Paulo (SASP), fundado em 1971, na gestão 1978-80.


Maitrejean atuou por 10 anos como conselheiro no CONDEPHAAT, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo. Primeiramente, como representante do IAB.


Em 1955, no início da carreira, Maitrejean trabalhou em parceria com Daisy Igel (1928). Uma parceria que se prolongou por vários anos e rendeu obras muito importantes, como as residências Israel Klabin e Pedro Franco Piva e o centro de distribuição da Ultragás. Outros colaboradores dessa primeira época foram os arquitetos Helmut Hein, que teve participação nas obras do Plano de Ação do Governo Carvalho Pinto (PAGE), e Helmut Offenberg. Para o PAGE projetou escolas em Auriflama, Jaboticabal, Marília e Paraguaçu Paulista.


Nos anos 1960 trabalhou junto com outros arquitetos em alguns concursos de projetos, como o da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (1962), desenvolvendo o projeto com Francisco Petracco, Nelson Morse e Telesforo Cristofani.


No final da mesma década, começou a trabalhar para a Duratex S/A Industria e Comércio, onde Maitrejean chefiou a Divisão de Produtos Novos entre 1969 e 1972.


Após sua saída da Duratex em 1975, constituiu o escritório de projetos Maitrejean & Sallouti Associados Arquitetos, com o arquiteto Georges Sallouti, que tinha participado de proposta para o concurso do Pavilhão de Oasaka (1970), na equipe de Flávio Mindlin Guimarães, Marklen Landa e Roberto Loeb. O escritório continua em atividade, embora Sallouti tenha se retirado, com os sócios Vicente Francisco Bernardo e Miren V. Maitrejean.


Outros colegas com os quais trabalhou foram Dicran Kassardjian, José Alberto Soares e Helena Afanasieff, no projeto do Estádio Municipal de Serra Dourada em Goiânia (1973). Também projetou, com Cláudio Cavalcanti, do Rio de Janeiro, o projeto do Hotel Holiday Inn no terreno do antigo Cassino da Urca (1983).


No VI Seminário DOCOMOMO São Paulo realizado em São Carlos em setembro de 2018, Maitrrejean, junto com Rosa Klias e Siegbert Zanettini, foi homenageado pelo Núcleo do DOCOMOMO São Paulo e pelo Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. A homenagem aos 3 arquitetos representou um pequeno, mas absolutamente justo reconhecimento da importância destes profissionais e de sua rica produção, para gerações de arquitetos e urbanistas, caracterizada por uma ousadia corajosa, pelo desejo de enfrentar o projeto através de soluções que demonstrassem à sociedade a capacidade racional e inspiradora dos arquitetos, em contribuir para o progresso social através de uma nova forma de construir, para uma nova forma de viver e trabalhar, com novas possibilidades de organização das cidades, mais democrática, justa, solidária e igualitária.


Maitrejean, trabalhou e pensou arquitetura durante 70 anos, incansavelmente, inspirando jovens de várias gerações de estudantes, estimulando colegas de profissão, tanto no âmbito do trabalho nos escritórios e empresas aos quais se vinculou, como, sobretudo, a seus colegas docentes em todas as instituições onde atuo. Todos os que o conhecemos teremos sempre dele a lembrança de um homem de espirito com uma enorme alegria de viver e de conversar, trocando ideias e esperanças.


Sentiremos sua falta.


Núcleo Docomomo São Paulo


O arquiteto em seu escritório, 2018. Foto: Paulo Fujioka

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