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EDIFÍCIO MONTREAL

São Paulo

Autor: Oscar Niemeyer

Imagens da obra

Imagens do projeto

FICHA TÉCNICA


Nome da obra: Edifício Montreal

Data do projeto / inauguração: 1950/1953

Localização/perímetro: Avenida Ipiranga 1284 – Centro – São Paulo SP

Autor do projeto: Arquiteto Oscar Niemeyer

Intervenções posteriores: remoção dos brises-soleil móveis

Tamanho do lote e área construída: 1.730 m² / 41.600 m²

Tombamento: não houve




INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS


BRUNA, P. GUERRERO, I. Quatro ensaios sobre Oscar Niemeyer. São Paulo: Ateliê Editorial, 2017.

ESPALLARGAS, L. Oscar Niemeyer: a arquitetura renegada na cidade de São Paulo. In:

Arquitextos, São Paulo, ano 13, n. 151.06, Vitruvius, dez. 2012. Disponível em: vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.151/4630 (data de acesso 01/05/2019).

LEAL, D. Edifício Montreal. Arquitetura moderna e orgulho nacional apropriados pela

iniciativa privada paulistana na década de 1950. 6º Seminário Docomomo. Niterói, dezembro de

2005.

LEAL, D. Oscar Niemeyer e o Marcado Imobiliário de São Paulo na Década de 1950: O escritório

satélite sob direção do arquiteto Carlos Lemos e os edifícios encomendados pelo Banco Nacional Imobiliário. Dissertação apresentada à UNICAMP. Campinas, 2003.

PAPADAKI, S. Oscar Niemeyer: Works in Progress. New York: Reinhold, 1956.

PHILIPPOU, S. Oscar Niemeyer: curves of irreverence. London: Yale University Press, 2008.

RIBEIRO, A. Edifícios Modernos e o Centro Histórico de São Paulo: dificuldades de textura e forma.

Tese apresentada à Fauusp. São Paulo, 2010.

SOBRE A OBRA


A partir do fim da década de 1940, a cidade de São Paulo consolida-se como metrópole e seu destaque no cenário nacional se reflete nas grandes obras que são executadas no período. Orgulhosamente chamada de ‘a cidade que mais cresce no mundo’, o otimismo paulistano atinge um máximo durante as comemorações do quarto centenário da cidade, em 1954. É a partir dos incentivos gerados pela Comissão do IV centenário que o Banco Nacional Imobiliário propõe o edifício Montreal no âmbito da construção da infraestrutura necessária para as celebrações (LEAL, 2003).

Projetado em 1950, juntamente com a Fábrica Duchen e a Galeria Califórnia, o edifício Montreal está entre as primeiras obras paulistanas do arquiteto carioca. Anterior a seu escritório satélite liderado por Carlos Lemos – que desenvolveria a maior parte de seus projetos na cidade –, o projeto do Montreal foi acompanhado de perto por Niemeyer, o que não é regra para suas obras em São Paulo. A exemplo disso, o processo de aprovação junto à Prefeitura Municipal demonstra o engajamento de Niemeyer ao defender seu projeto frente às alterações que o código de obras Arthur Saboya, de 1929, requeria. Antiquada, a legislação não permitia unidades sanitárias ventiladas através de dutos, e mesmo o decreto-lei número 41, de agosto de 1940, obrigava os recuos sucessivos acima dos 39 metros. Utilizando-se de desenhos explicativos, Niemeyer argumentou a favor de seu projeto com base no conjunto edificado que a legislação sugeria, destacando a exposição das empenas cegas das edificações vizinhas caso o recuo fosse executado, tal como a perda do volume puro desejado.

Não obstante o êxito da despensa destas restrições, o processo da aprovação testemunha a falta de familiaridade do arquiteto com a legislação local, sendo que diversas alterações foram de fato enforcadas, possivelmente razão pela qual a planta do acesso, no subsolo, fora alterada em relação àquela publicada no segundo livro de Stamo Papadaki sobre a obra de Niemeyer (1956). Além desta, a outra planta publicada é a da sobreloja, que mostra o espaço desocupado, aparecendo apenas a malha estrutural, o que possivelmente induziu ao erro recorrente de várias publicações que o apontam como edifício de escritórios.

O acesso do edifício se dá pelo subsolo, originalmente através de duas rampas que foram substituídas por escadas na versão executada. Esta estratégia, também utilizada no edifício Triângulo, libera o térreo para lojas. As plantas-tipo contém 12 unidades por pavimento do primeiro ao décimo andar, com circulação ao redor de um vazio central triangular que ilumina e ventila os corredores através de duas paredes perfuradas (a terceira sendo estrutural). A partir do décimo primeiro pavimento, as unidades extremas são suprimidas devido ao recuo necessário, sendo que o tratamento externo dado a estas difere do corpo principal – discreta e branca, com janelas quadradas, percebe-se que o arquiteto abriu mão da unidade do objeto em favor de uma leitura mais harmônica, tanto com relação ao conjunto urbano da esquina quanto com o volume puro que resulta da operação.

O ângulo agudo da esquina entre as avenidas Ipiranga e Cásper Líbero é resolvido com um arco de circunferência, cujo gesto do desenho é reforçado pela horizontalidade dos brises-soleil em concreto, perfurados (três por pavimento). Devido à diferente orientação, um trecho da fachada voltada para a avenida Ipiranga era protegido por brises-soleil verticais móveis cuja remoção representa a principal descaracterização sofrida pela obra.




SOBRE O AUTOR


Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares filho (Rio de Janeiro, 1907 – Rio de Janeiro, 2012) graduou-se engenheiro arquiteto pela Escola Nacional de Belas Artes em 1934. Estagiou no escritório do arquiteto Lúcio Costa, onde se aproximou da equipe designada para projetar o novo edifício sede do Ministério da Educação e Saúde Pública. A partir de seu contato com Le Corbusier, que participa do projeto como consultor, Niemeyer acaba por se destacar dentro da equipe. Em 1939, é convidado por Lúcio Costa para projetar o pavilhão brasileiro para a feira internacional de Nova Iorque, projeto que recebe amplos elogios. Em 1943, ao projetar o conjunto arquitetônico da Pampulha para o então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek (1902-1976), Niemeyer inaugura uma linguagem compositiva autoral que se destaca mesmo dentro do international style, sendo amplamente publicado, especialmente na exposição Brazil Builds, do MoMA, que, juntamente com o pavilhão, lança a arquitetura moderna na vanguarda do cenário internacional.

Com mais de 150 projetos e 50 obras realizadas, em 1956 Niemeyer é novamente convocado por Kubitschek, agora presidente, para projetar a nova capital do país. Trabalhando até sua inauguração em 1960, Niemeyer produz o principal conjunto de edificações de Brasília, o que o consolida como um dos mais importantes arquitetos do século XX. Devido à ditadura militar que se estabelece em 1964, Niemeyer passa boa parte da década de 1970 no exterior, projetando em diversos países. Retorna definitivamente ao Brasil em 1985, onde trabalha até sua morte, dez dias antes de completar 105 anos, em 5 de dezembro de 2012.




IMPORTÂNCIA DA OBRA PARA O MOVIMENTO MODERNO


Primeira edificação do arquiteto Oscar Niemeyer na cidade de São Paulo, projetado no mesmo ano que a Fábrica Duchen e a Galeria Califórnia, o edifício Montreal demonstra a liberdade projetual do arquiteto, através da qual ele prioriza o desenho urbano e a pureza volumétrica sobre a unidade do objeto arquitetônico. Implantado em densa e consolidada malha urbana, o resultado, expressivo, porém contido, amplia o entendimento das estratégias de projeto moderno.


Redação da ficha: Rolando Piccolo Figueiredo / Rafael Ribeiro

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