EDIFÍCIO BARÃO DE LAGURA E EDIFÍCIO BARÃO DE LADÁRIO, CONJUNTO RESIDENCIAL PERDIZES
Visão dos dois Edifícios a partir da área de lazer (2019). Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT.
Fachada Leste do edifício Barão de Ladário desde a Rua Dr. Homem de Mello (2019). Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT.
Rampa de acesso de pedestres ao edifício Barão de Ladário (2019). Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT.
Visão dos dois Edifícios a partir da área de lazer (2019). Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT.
Imagens da obra
Planta tipo, de acordo com o projeto original. Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT. (Redesenho Ana Claudia dos Santos, Vanessa Lury Shinzato Oyakava e Maria Rayane Lima Santos).
Planta tipo, de acordo com o projeto original. Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT. (Redesenho Ana Claudia dos Santos, Vanessa Lury Shinzato Oyakava e Maria Rayane Lima Santos).
Imagens do projeto
FICHA TÉCNICA
Nome da obra: Conjunto Residencial Perdizes (3ª fase) – Edifício Barão de Laguna e Edifício Barão de Ladário
Data do projeto/construção/inauguração: 1954/1960.
Localização/perímetro: Rua Dr. Homem de Melo, 697 - Perdizes, São Paulo-SP.
Autor do projeto: Arq. Roberto Aflalo, Salvador Cândia e Plínio Croce.
Intervenções posteriores: colocação de gradis junto ao alinhamento das calçadas e internamente na superquadra.
Tamanho do lote e área construída: 5.787,20 m².
Tombamento: não houve.
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
BEDOLINI, A. C. B. Banco Hipotecário Lar Brasileiro S. A. Análise das realizações no Estado de São Paulo 1941-1965. 2014. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2014.
CONSTANTINO, R. A. A Obra de Abelardo de Souza. Dissertação de mestrado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2004.
FORTE, F. “Plínio Croce fundou o mais antigo escritório em atividade no país”. AU (Arquitetura e Urbanismo). n. 190, jan. 2010. Disponível em: <http://au17.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/190/artigo159576-1.aspx> Acesso em: 16 mai. 2019.
ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. Salvador Candia. 2019. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa861/salvador-candia>. Acesso em: 25 abr. 2019.
ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. Plinio Croce. 2019. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa263130/plinio-croce>.
SAMPAIO, M. R. A. A Promoção Privada de Habitação Econômica e a Arquitetura Moderna 1930-1964. São Carlos (SP): RiMa: FAPESP, 2002.
SOBRE A OBRA
As torres Barão de Laguna e Barão de Ladário integram o Conjunto Residencial Perdizes, um empreendimento financiado pelo Banco Hipotecário Lar Brasileiro em 1953.
Segundo Bedolini (2014), o Plano Diretor do Conjunto foi desenvolvido em três fases sucessivas, tendo sido a primeira projetada pelo arquiteto Abelardo Riedy de Souza entre 1952 e 1953.
Regina A. Constantino (2004) observa que o primeiro modelo de implantação se inspirou nas referências urbanísticas de matriz racionalista difundidas pelo Congresso Internacional da Arquitetura Moderna (CIAM), segundo as quais se abria mão do parcelamento do solo, em prol do conceito de quadra aberta. Tratava-se de um padrão urbano experimental pelo potencial de renovação da morfologia urbana anunciado, mas não completamente concretizado, em virtude da posterior subdivisão da quadra em vários condomínios.
Pertencentes à terceira fase do Conjunto Residencial Perdizes, as duas torres de dezoito pavimentos são de autoria dos arquitetos Roberto Aflalo, Plínio Croce e Salvador Candia.
Destacam-se na paisagem do entorno pela disposição na quadra dotada de amplos recuos e farta vegetação, e ainda pela presença de pilotis que se desenvolvem em dois níveis destinados a atividades de uso comum, sendo que o plano superior conforma uma espécie de praça suspensa que estabelece comunicação entre os dois edifícios.
A entrada do conjunto é realizada por meio de uma rampa de inclinação suave, circundada por uma área permeável. Essa condição de implantação permite o acesso da calçada à área coberta situada na projeção do volume edificado, onde estão acomodados os halls de acesso aos elevadores e as áreas de convivência, como salão de festa, academia, piscina, quadra de jogos e playground. Também se faz presente um mobiliário composto por bancos de forma sinuosa que contornam as jardineiras.
Os edifícios são constituídos por dezoito pavimentos e subsolo destinado a estacionamento. As unidades de habitação estão dispostas nos dezesseis andares superiores, quatro apartamentos por andar, totalizando 64 unidades em cada torre.
A implantação dos volumes quadrangulares, alinhados ao eixo norte-sul, com quatro apartamentos por andar de tipologia única, limita a insolação das unidades voltadas ao sul. Sua planta-tipo é caracterizada por um núcleo de circulação vertical centralizado, composto por dois elevadores e uma escada, permitindo o acesso aos quatro apartamentos.
O espaço interno das unidades é composto por sala de estar e jantar, cozinha, despensa, área de serviço com quarto de empregada, um banheiro e três dormitórios. Ao entrar no apartamento, avistam-se as salas de jantar e estar, que permitem, de um lado, o acesso ao corredor e às áreas íntimas (quartos e banheiro social) e, de outro, à cozinha, de onde é feita a distribuição para a área de serviço (composta de lavanderia e dormitório).
A modulação dos edifícios é demarcada nas quatro fachadas por meio de uma trama estrutural de concreto, dividida verticalmente por quatro linhas de pilares mais robustos, duas delas situadas nas extremidades, intercaladas a outros mais esbeltos, que delimitam as esquadrias, e horizontalmente pelas vigas, que subdividem a superfície em retângulos regulares. Os pilares ressaltados em relação ao alinhamento da alvenaria, juntamente com os menores distribuídos regularmente, produzem um efeito de movimentação da volumetria, criando um ritmo regular reforçado pela disposição da caixilharia de dimensões uniformes.
Alterações efetuadas:
Com o passar dos anos, foram realizadas algumas modificações pontuais, como a instalação do playground e um anexo no qual funcionam atualmente a academia e a administração do prédio.
Dentre as alterações, a mais marcante foi a delimitação do lote pela instalação de gradis metálicos, em substituição às baixas muretas de pedra previstas inicialmente, eliminando o conceito de quadra aberta, que pretendia proporcionar fluidez física e visual entre o contexto urbano e o interior da quadra.
IMPORTÂNCIA DA OBRA PARA O MOVIMENTO MODERNO
A obra destaca-se pela qualidade formal e construtiva, refletindo a afirmação da linguagem e dos princípios de racionalização da arquitetura moderna, amparada por uma produção diversificada de materiais e pela transformação do conceito de propriedade, mediante a adoção pioneira da modalidade de condomínio residencial vertical no bairro de Perdizes, num momento em que predominava a morfologia horizontal.
Os edifícios possuem uma planta quadrangular constituindo um volume prismático, com modulação regular, dividida em intervalos uniformes, o que lhes assegura um ritmo bem definido, por meio da distribuição dos caixilhos, pilares e frisos verticais em concreto armado. É notável o embasamento demarcado pelos pilotis que elevam o edifício, proporcionando áreas cobertas dispostas em dois níveis, no térreo e num piso elevado, constituindo espaços reservados aos usos coletivos. Em sua concepção inicial pretendia-se aplicar o conceito de quadra aberta que, entretanto, foi abandonado
SOBRE OS AUTORES
Plínio Croce (Tietê, SP, 1921, na cidade de Tietê – São Paulo, SP, 1984) formou-se pela Faculdade de Engenharia Mackenzie em 1946, quando iniciou a colaboração com o escritório Regis & Augustin, onde permaneceu até 1949. Sua participação na consolidação da profissão na cidade de São Paulo, pode ser comprovada seja pelo exercício do cargo de segundo-secretário do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-SP), seção paulista, desde 1950, por quatro anos consecutivos, seja pelo exercício da docência na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), desde 1948, ano de sua fundação, até 1984, ano do seu falecimento.
Roberto Cláudio dos Santos Aflalo (1926-1992, São Paulo, SP) formou-se em 1950, também pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie. Associou-se a Plinio Croce em 1950, ao obter o diploma, depois um ano de experiência na condição de estagiário, integrando o escritório Plínio Croce & Roberto Aflalo Arquitetos, um dos mais produtivos escritórios de arquitetura paulistanos.
No ano de 1953, Croce e Aflalo uniram-se a Salvador Candia (Campo Grande, MS,1924 – São Paulo, SP, 1991), também formado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie, em 1948. Em parceria conceberam o projeto do edifício João Ramalho (2ª fase do Conjunto Residencial Perdizes), que obteve o prêmio internacional da categoria Habitação Coletiva na 4ª Bienal de São Paulo, em 1957.
Salvador Candia dedicou-se à docência na Universidade Mackenzie, exercendo o cargo de diretor entre os anos 1967-69. Durante sua trajetória profissional colaborou com importantes arquitetos, como Rino Levi, Oswaldo Bratke, Vilanova Artigas e Giancarlo Gasperini.
A parceria entre os arquitetos, Croce, Aflalo e Candia, lhes possibilitou atuar com destaque no cenário arquitetônico paulistano, em sintonia com as propostas alinhadas com o movimento moderno, produzindo edifícios residenciais, comerciais e de serviços, dotados de excelente padrão formal e construtivo.
Autores da ficha: Eneida de Almeida, Ana Claudia dos Santos, Vanessa Lury Shinzato Oyakava e Maria Rayane Lima Santos.