GRUPO ESCOLAR ANTÔNIO VILELA JUNIOR
Vista Frontal e lateral da Escola Estadual, a partir do cruzamento das ruas Francisco Teodoro com R. Conselheiro Gomide. Fonte: acervo grupo de pesquisa ArtArqBr.
Vista do pátio lateral com os brises (2019). Fonte: acervo grupo de pesquisa ArtArqBr.
Vista do pátio interior (2019). Fonte: acervo grupo de pesquisa ArtArqBr.
Vista Frontal e lateral da Escola Estadual, a partir do cruzamento das ruas Francisco Teodoro com R. Conselheiro Gomide. Fonte: acervo grupo de pesquisa ArtArqBr.
Imagens da obra
Plantas, cortes e elevações. Redesenho dos autores. Fonte: acervo grupo de pesquisa ArtArqBr.
Plantas, cortes e elevações. Redesenho dos autores. Fonte: acervo grupo de pesquisa ArtArqBr.
Imagens da obra
FICHA TÉCNICA
Nome da obra: Grupo Escolar Antônio Vilela Jr, atual EE Prof. Antônio Vilela Jr
Data do projeto: 1960 / construção / inauguração: 1962
Localização: Rua Conselheiro Gomide, s/n, Vila Industrial- Campinas, SP.
Autor(es)(as) do projeto: Paulo Mendes da Rocha e João Eduardo Gennaro
Intervenções posteriores: Não houve, à exceção de uma quadra esportiva que não interfere na edificação e da pintura das empenas que subtraia, parcialmente, a materialidade do concreto.
Tamanho do lote e área construída: Lote 3.552 m²
Tombamento: Não houve
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
ACROPOLE. Grupo Escolar em Campinas, 1960. Acrópole, São Paulo, Ano 29, n.342, p. 24-25, ago. 1967.
ALVES, A. A. A. Arquitetura Escolar Paulista 1959 – 1962: o Page, o Ipesp e os arquitetos modernos paulista. 2008. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
BUZZAR, M.A. Relatório final FAPESP Difusão da Arquitetura Moderna no Brasil – O patrimônio arquitetônico criado pelo Plano de Ação do Governo Carvalho Pinto (1959-1963). Relatório final FAPESP, Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2015.
FERREIRA, A.F.; MELLO, M.G. (Org.). Arquitetura escolar paulista: anos 1950 e 1960. São Paulo: Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE, 2006.
SOBRE A OBRA
O Grupo Escolar Antônio Vilela Jr foi a primeira de uma série de escolas projetadas por Paulo Mendes da Rocha e João Eduardo Gennaro a partir de 1960 para o Plano de Ação do Governo do Estado seguindo as instruções e programa do FECE. O edifício de volume único se destaca pela sua forma trapezoidal com a laje de cobertura curvilínea apoiada em um dos lados por uma grande estrutura inclinada com brises soleil. Essa solução formal oferece forte presença do edifício no seu contexto urbano, ao mesmo tempo em que propicia um espaço interno dinâmico com diversas dimensões de pé direito.
A escola está implantada em um terreno com frente para uma praça, e lindeiro as duas ruas transversais da quadra, em cota de nível único 80 cm acima em relação à das ruas, desta forma o acesso se dá através de rampas que vencem o desnível, pensadas como ruas internas.
A construção pode ser setorizada em três faixas lineares: área administrativa, pátio central e salas de aulas, unidas pela grande cobertura que integra os ambientes. ALVES (2008, p 324) descreve a cobertura como uma “solução inclinada cujo pé-direito diminui das salas de aula em direção ao galpão”, encontrando a cobertura da área administrativa, em laje plana também impermeabilizada.
O grande pátio ganha destaque na obra devido a sua proporção e sua localização, sendo o espaço de integração e articulação da escola. De alguma maneira os alunos, funcionários e professores passam por ele, constituindo-se assim enquanto um espaço central de convívio e socialização. Através do pátio se tem acesso a todas os ambientes e áreas da escola, inclusive a quadra de esportes que também assume a função de recreio descoberto. O pátio é iluminado por aberturas zenitais que permitem uma iluminação natural difusa no ambiente.
As 16 salas de aulas são distribuídas linearmente na lateral do pátio em dois pavimentos. No térreo estão dispostas 7 salas em um pequeno desnível em relação ao pátio que contribui para ampliação do pé direito de 3,5m, nesta mesma faixa também estão as duas salas destinadas ao pré-primário. As salas de aulas do pavimento superior, devido a cobertura inclinada, possuem pé direito variável de 2,70m a 4,30m. Apesar da diferença da altura das salas, ambas possuem as mesmas dimensões e características, pequenas aberturas para o interior contribuem para ventilação cruzada.
As empenas, originalmente executadas em concreto armado aparente, filiam-se às obras dos primeiros experimentos brutalistas que caracterizou em grande parte o modernismo paulista daquele momento. Os arquitetos utilizaram soluções que exploraram as possibilidades construtivas e plásticas do concreto. A estrutura de brises soleil de grande dimensão se estende sustentada por pilares inclinados e formando uma espécie de segunda pele que funciona tanto como solução de conforto térmico para as salas de aulas, como solução plástica, além de contribuir para a formação da galeria de circulação interna ao longo do perímetro do edifício. Observa-se no projeto original que a escola foi projetada sem muros ou grades mantendo relação com o meio urbano.
Outras soluções utilizadas pelos arquitetos mesclam as novas tecnologias advindas da arquitetura moderna com materiais de acabamentos tradicionais. Utiliza de laje maciça e laje de cobertura nervurada, empenas externas em concreto armado juntamente com vedações internas em alvenaria de tijolos, assoalho de peroba e cerâmica vermelha.
IMPORTÂNCIA DA OBRA PARA O MOVIMENTO MODERNO
Esta obra reveste-se de grande significado na medida em que reafirma alguns princípios da arquitetura moderna, como a estrutura independente, a continuidade e fluidez espacial, ao mesmo tempo em que contribuiu para o desenvolvimento dos procedimentos da Escola Paulista, experimentando uma solução de cobertura muito particular. De certa forma, com os brises soleil, a laje de cobertura curvilínea, a centralidade do pátio de convívio, a dinâmica espacial conquistada com os vários planos internos e a presença original da expressividade do concreto aparente, a concepção arquitetônica da obra articula elementos da Escola Carioca e da Escola Paulista, de forma única.
SOBRE OS AUTORES
Paulo Mendes da Rocha e João Eduardo Gennaro realizaram vários projetos em conjunto. Nessa associação o trabalho de Mendes da Rocha ganhou destaque. Nascido em 15 de outubro em 1928 em Vitória, Espírito Santo, o arquiteto formou-se em uma das primeiras turmas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1954. Apesar de formada em curso com perfil tradicionalista, Mendes da Rocha abraçou desde o início de sua atividade profissional os procedimentos modernos.
A primeira obra realizada pela dupla foi resultado de um concurso nacional vencido pelo arquiteto, o Club Athlético Paulistano, premiado na Bienal Internacional de Arte de São Paulo, ZEIN (2000, p 160) descreve a obra como “ uma proposta audaciosa reunindo concreto e tirantes de aço, aliando rigor de concepção e fluidez espacial e requalificando a ideia de espaço público que é trazido, sem solução de continuidade, ao interior do edifício”.
Em 1960 Paulo Mendes da Rocha foi convidado por Vilanova Artigas para integrar o corpo docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, nesse momento, as obras do PAGE foram fundamentais para a constituição da dimensão social da chamada Escola Paulista, da qual foi um dos seus expoentes. Em 1969 teve seus direitos cassados pela ditadura militar e foi proibido de ministrar aulas, retornando à universidade somente em 1983. Com a abertura política, praticamente, concomitante ao seu retorno à docência, sua obra adquiriu um novo e grande desenvolvimento, sendo ganhador do Prêmio Pritzker em 2006 e acumulou outros prêmios e reconhecimento mundial: em 2000 com o Prêmio Mies van der Rohe de Arquitetura Latino-americana, em 2016 ganhou o Leão de Ouro da Bienal de Veneza e o Imperiale Praemium (Prêmio Mundial de Cultura em Memória de Sua Alteza Imperial o Príncipe Takamatsu do Japão), em 2017 a Medalha de Ouro Real do Royal Institute of British Architects (RIBA) e a Medalha de Ouro da União Internacional do Arquitetos (UIA) em 2021. Fora a atividade profissional, o arquiteto sempre manteve intensa atuação em órgãos de classe e associações culturais ligadas à arquitetura e ao urbanismo, o que o associa à dimensão social que, também, marca em grande parte a sua obra. Paulo Mendes da Rocha faleceu em 23 de maio de 2021.
Autores da ficha: Jasmine Luiza S. Silva, Miguel Antonio Buzzar, Caroline Niitsu de Lima, Miranda Zamberlan Nedel, Rachel Bergantin, Lucia Noemia Simoni, Marina de Holanda Souza (Grupo de Pesquisa PAGE - Grupo de pesquisa “ArtArqBr – Arte e Arquitetura, Brasil”, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo IAU-USP).
Data da ficha: Fevereiro de 2020